Ivania dos Santos Neves, Maria do Rosário Gregolin
Resumo
Adotando a perspectiva arqueogenealógica de Michel Foucault, este artigo se debruça sobre as estratégias de governamentalidade que institucionalizaram a língua portuguesa como um saber-poder que se instala ao longo da história colonial do Brasil. Focalizamos, particularmente, dois prolongamentos descontínuos nessa história: a) do momento inicial de nossa colonização, com o ensino jesuítico, ao século XVIII e a promulgação do Diretório dos Índios; b) do período Imperial à instalação da República (ao longo do século XIX e início do XX). Não se trata, aqui, de compreender a língua apenas como estrutura linguística ou gramatical, mas sim de investigar suas estratégias muitas vezes belicosas, sua materialidade e sua indissociabilidade do exercício dos poderes. A língua, dessa perspectiva, envolve o corpo e suas formas de vida num espaço biopolítico de disputa de poder. Ao mostrar como o corpo foi investido de poder no decorrer da história brasileira, nosso objetivo é verticalizar a história tácita das políticas linguísticas no Brasil para além de leis ou decretos, compreendendo-a com suas normalizações insuspeitas, em seus cotidianos espaços de poder. Nosso olhar acompanha, na descontinuidade histórica, diferentes estratégias utilizadas pelo Dispositivo Colonial que subalterniza saberes e cosmologias e alimenta as desigualdades por meio da denegação de acontecimentos históricos. Entendemos essa intensa movimentação como o governo da língua, que é exercido por meio de vários dispositivos de saber e de poder articulados (religioso, jurídico, escolar, político-administrativo etc.) e que produz as linhas de força do quem somos e quem não somos nós hoje.
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