Por Dilermando Gadelha e Vívian Carvalho
Será que a morte é, de fato, o fim da participação das pessoas neste mundo? Ou será que é possível imortalizá-las e fazê-las presentes, reverberá-las mesmo décadas depois de sua partida? Para um grupo de pesquisadores ao redor do Brasil a resposta a essa última pergunta é um grande e sonoro sim! E a prova disso é o colóquio 30 anos com Foucault em Belém, que aconteceu nos dias 14 e 15 de outubro, na Universidade Federal do Pará. O evento, organizado pelo GEDAI, é uma celebração dos 30 anos da presença de Michel Foucault no pensamento e na construção de conhecimentos no Brasil, mesmo depois de sua morte, em 1984.
Trinta anos de ausência física, mas pontuados por um constante pensar junto, o qual está estampado nos diversos trabalhos de pesquisadores e estudantes que participaram do colóquio, como o da professora da Universidade Federal da Paraíba, Regina Baracuhy, que abriu o encontro com a palestra “Foucault e a cidade: o governo do corpo social”. Na ocasião, a professora mostrou os encaminhamentos e resultados das diversas pesquisas realizadas em sua atuação como pesquisadora, as quais utilizam conceitos foucaultianos como os de governamentalidade e vontade de verdade para pensar a produção de discursos em espaços urbanos, como nas placas de ruas e mesmo os grafitis e pichações que adornam os muros da cidade de João Pessoa.
Já o trabalho da professora do Programa de Pós-Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia da UFPA e coordenadora do evento, Ivãnia Neves, recorreu ao conceito foucaultiano de heterotopia para analisar a “(in)desejável presença indígena: diferentes ecos da colonização no Peru e no Brasil.” De acordo com a professora, o objetivo da palestra foi mostrar as diversas maneiras como os discursos que circulam na região da panamazônia sobre os indígenas, desde a colonização da região, são atualizados nas práticas cotidianas ainda hoje, como no turismo peruano, por exemplo.
“Na atual configuração geopolítica desta parte do continente há, pelo menos, três diferentes matrizes culturais e históricas em relação às populações indígenas: um quase total apagamento histórico, procedimento adotado pela Argentina; uma tensão que oscila entre a garantia de alguns direitos e o processo de desestruturação dessas sociedades, o modelo brasileiro; e uma terceira situação, quando a economia nacional capitaliza a cultura indígena e a transforma numa importante fonte de renda, como acontece no Peru e no México”, explica a professora sobre o ponto de partida que possibilita a análise de materialidades como propagandas turísticas e quadrinhos que circulam tanto no Peru quanto no Brasil.
Para encerrar o colóquio, o professor Nilton Milanez, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, apresentou a palestra “Foucault e o Cinema: 30 Anos de Artes de Si”. Na apresentação, Nilton explicou sobre a relação de Foucault com o cinema e mostrou vários trabalhos do autor voltados para as obras cinematográficas.
Incentivo à pesquisa – O colóquio contou ainda com a apresentação de estudantes de graduação e pós-graduação de diversas áreas de conhecimento, como a comunicação, as letras, a pedagogia e o ensino de matemáticas e ciências. Os estudantes tiveram a oportunidade de apresentar as suas pesquisas em curso e também de debater e trocar ideias entre si e com pesquisadores renomados em estudos foucaultianos. É o caso da mestranda em comunicação da UFPA Nathália Cohén, que apresentou o trabalho “Hoje e ontem: a docilização dos corpos dos jogadores de futebol”, a qual afirma que o evento foi muito importante, pois promoveu a troca de conhecimentos e a abertura de caminhos para sua pesquisa.
“Eu recebi muitas dicas dos professores que estavam participando do colóquio e isso é muito importante, pois nos mostra novos caminhos e novas possibilidades por onde levar a pesquisa. Além disso, eventos como esse são de suma importância para divulgarmos a ciência e os conhecimentos que estamos produzindo em nossos espaços de pesquisa”, afirma a mestranda.
No total, o colóquio 30 anos com Foucault em Belém, durante dois dias, contou com a apresentação de 26 trabalhos de professores e estudantes de várias instituições do Pará, como a Universidade da Amazônia (UNAMA) e a UFPA, representada por estudantes de Belém e do campus da Universidade em Castanhal.
Nota biográfica – A primeira vinda de Michel Foucault à Belém ocorreu em 1973. Sobre ela, muito pouco se sabe. Já a segunda vez que o pensador francês esteve na capital paraense foi em 1976, a convite do filósofo paraense Benedito Nunes, para ministrar um curso na UFPA. Dessa segunda viagem, havia como registro público, até hoje, apenas uma matéria numa edição do jornal O Liberal de 76 e uma foto de Foucault e Nunes na praia do Marahu, em Mosqueiro, a qual circula pela internet.
Com vistas a tornar mais clara a passagem do pensador pelo Pará foi lançado, durante o colóquio 30 anos com Foucault em Belém, um documentário que busca remontar, por meio de entrevistas e animações, os caminhos trilhados por Foucault no estado.
O documentário, assim como o colóquio, são uma realização do Grupo de Estudos Mediações, Discursos e Sociedades Amazônicas (GEDAI), coordenado pela professora Ivânia Neves e vinculado ao PPGCOM-UFPA.
O colóquio é itinerante e teve inicio na Universidade Estadual Paulista, campus de Araraquara. Ainda este ano ocorrerão edições do colóquio em Vitória da Conquista, na Bahia, e em Sâo Carlos, em São Paulo.
O colóquio é itinerante e teve inicio na Universidade Estadual Paulista, campus de Araraquara. Ainda este ano ocorrerão edições do colóquio em Vitória da Conquista, na Bahia, e em Sâo Carlos, em São Paulo.