Os povos indígenas do Baixo Tapajós protagonizam uma revolução cultural e linguística desde fim do século XX. Com inumeráveis enfrentamentos, eles passaram a reafirmar suas identidades étnicas e a movimentar a retomada linguística da língua Nheengatu como língua indígena ancestral.
No Baixo Tapajós há 13 povos indígenas, dos quais 12 retomaram o Nheengatu como sua língua. Representados pelo Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns – CITA, os povos do Baixo Tapajós são: Arapium, Apiaká, Arara Vermelha, Borari, Jaraki, Maytapú, Munduruku, Munduruku Cara Preta, Kumaruara, Tapajó, Tupaiú, Tupinambá e Tapuia. Estes povos estão distribuídos em 70 aldeias, com aproximadamente 20 territórios ocupados por cerca de 8 mil pessoas que vivem nas aldeias rurais do Baixo Tapajós.
Em Janeiro do ano de 1999 o Grupo Consciência Indígena – GCI, formado por jovens militantes universitários, professores e oriundos de comunidades rurais e descendentes dos povos indígenas da região, organizou em Santarém a primeira oficina de Nheengatu. Com a implantação em 2007 da educação escolar indígena pela prefeitura de Santarém, Aveiro e Belterra, o movimento indígena reivindicou o ensino da língua Nheengatu nas escolas municipais presentes nos territórios indígenas. Em 2010, quando a reivindicação foi atendida, surgiu a necessidade de ofertar uma capacitação formal da língua Nheengatu aos professores indígenas.
De acordo com Vaz Filho e Silva Meirelles (2019, p.111) “foi nesse contexto que surgiu o Curso de Nheengatu, oferecido pelo GCI e pela Diretoria de Ações Afirmativas (DAA) da Universidade Federal do oeste do Pará (UFOPA), como um curso de extensão desta instituição. O projeto de extensão Curso de Nheengatu consistia em uma preparação de indígenas com assessoria de professores indígenas do rio Negro (AM) e pesquisadores acadêmicos vindos de universidades em São Paulo. O Curso tinha uma Carga Horária total de 360 horas divididas em quatro módulos de um mês cada. As aulas aconteceram no Centro Indígena Maira, da Custódia São Benedito da Amazônia (Frades Franciscanos), importante parceira do Curso de Nheengatu, junto com Grupo de Pesquisa LEETRA (USP/UFSCAR) e outros”. O processo de reinscrição da língua Nheengatu no Baixo Tapajós (SILVA MEIRELLES, 2020) é também um processo de resistência ao Governo da Língua.
Referências:
VAZ FILHO, Florêncio Almeida. A emergência étnica de povos indígena no baixo rio Tapajós, Amazônia. Tese (Doutorado em Ciências Sociais/Antropologia). PPGCS-Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2010.
A produção do Conhecimento nas Letras, Linguísticas e Artes 3.indd (atenaeditora.com.br)
Silva Meirelles, Sâmela Ramos da. A reinscrição de uma língua destituída : o Nheengatu no Baixo Tapajós. Tese (Doutorado em Linguística). Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem, São Paulo, Campinas, 2020.