Livro lançado pelo IPHAN, em projeto desenvolvido pelo GEDAI |
Shiley Penaforte e Ivânia Neves, pesquisadoras do GEDAI e autoras do livro |
O Nascimento de Zahy
A história de Zahy é uma narrativa oral que conta a cosmologia dos Tembé-Tenetehara, uma sociedade indígena que vive na interseção entre os estados do Pará e Maranhão. Essa história, dentre muitas das outras vividas por esses povos, permaneceu silenciada e restrita à memória e às práticas cotidianas de suas principais personagens: os Tembé-Tenetehara, mas agora ela rompe as barreiras do apagamento. O livro “Patrimônio Cultural Tembé-Tenehara”, de autoria da professora Ivânia Neves e da fotógrafa, e também professora, Ana Shirley Penaforte Cardoso, busca contar, de forma sensível e participativa as narrativas orais, os práticas e rituais, a cultura material, a participação das mulheres na vida cotidiana e a história política desses povos indígenas. O livro foi lançado na última terça-feira (10), em evento realizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), no Museu do Estado do Pará (MEP).
Bêwãre Tembé |
É a primeira vez que os pesquisadores retornam com o livro para nossa aldeia. Nós estamos representados neste livro, são as nossas história, a nossa cultura. Agora vamos poder mostra nossa cultura! Foi muito bom participar deste projeto! Bêwãre Tembé – Professor indígena da Aldeia Sede.
Nós esperamos mais de 300 anos de contato para que finalmente tivesse um livro com a nossa cultura e com a nossa história. Estmos aqui neste museu, que foi construído pelos colonizadores, mas este é um momento muito imortante, porque agora este livro e este lançamento vai mostrar para todos a nossa versão da história. América Tembé – Agente de saúde indígena
Segundo a professora Ivânia Neves, o livro é uma oportunidade de mostrar a história contada a partir do ponto de vista de sociedades que são, historicamente, silenciadas. “O livro nos dá a oportunidade de tornar pública a versão da verdade contada por eles mesmos”, explica.
Shirley Penaforte, Améria Tembé, Célia Tembé e Ivânia Neves |
O livro foi lançado na sala “A Conquista”, do MEP, onde se encontra a tela “A Conquista do Amazonas”, de Antônio Parreiras, fato que para as autoras e os representantes dos Tembé, não foi coincidência. “Há uma questão simbólica em estarmos nesta sala, de frente para esta tela que representa o domínio da colonização europeia sob a sociedade amazônica. A tela conta apenas a história do europeu e o nosso livro vai de encontro a esta versão, mostrando a pluralidade das verdades”, garante a pesquisadora.
Os Tembé e a tela “A Conquista do Amazonas” |
Durante a cerimônia de lançamento, vários representantes Tembé se manifestaram, afirmando que o livro retrata nitidamente a sua cultura: O nosso maior patrimônio é a nossa terra, precisamos valorizá-la, e com este livro esperamos que as pessoas de um modo geral, e principalmente nossas autoridades, nos reconheçam, enfatiza Reginaldo Tembé, cacique na aldeia Cajueiro. Para Lorival Tembé, hoje o grande cacique entre eles, A terra é nosso maior patrimônio, nós, nem ninguém pode viver sem ela. Se matarem os rios e os peixes, todos nós vamos morrer!
Lourival e Elias Tembé Reginaldo Tembé |
O evento contou ainda com uma mesa de discussão sobre a produção do livro e sobre a cultura dos Tembé, em que estavam presentes as autoras, além do T.T. Catalão (DPI-IPHAN) e Reginaldo Tembé. Diversas lideranças indígenas participaram da mesa, dando depoimentos sobre a importância da valorização de sua cultura; a relação do povo com o território; e o papel do livro como uma ferramenta para a perpetuação de sua história entre indígenas e não indígenas. Os Tembé-Tenetehara também fizeram uma apresentação com danças e cantos típicos.
João Tembé, América Tembé, Shirley Penforte e TT Catalão |
Para Dorotea Lima, superintende do IPHAN no Pará, a entrega do livro aos Tembé-Tenetehara é um momento muito especial, pois é o primeiro projeto com sociedades indígenas do Instituto no estado do Pará.
Elias Tembé, João Tembé, Dorotea Lima, América Tembé e as autoras |
A equipe do IPHAN Pará se empenhou bastante para que o livro saísse. Segundo a professora Ivânia Neves, o técnico Cyro Lins foi fundamental neste processo: “Ele não mediu esforços para que chegássemos até o final, esteve conosco no lançamento nas aldeias e foi um dos principais responsáveis por esta festa de hoje. Quando Sérgio Melo nos propôs de lançarmos o livro na Sala da Conquista, ele imediatamente passou a trabalhar com esta proposta.! – afirma a professora.
Cyro Lins Sérgio Melo e Shirley Penaforte |
A presença das mulheres Tembé-Tenetehara foi marcante durante o lançamento. O protagonismo destas mulheres também mereceu um capítulo especial do livro.
Kudã’í e Brasilice |
Minha vó Verônica me contou estas histórias, me ensinou nossa cultura. Eu sou professora de língua, ajudei bastante a construir este livro. Agora nós vamos continuar! Ainda falta muita coisa, mas o livro já vai ajudar na escola! – Kudã’í Tembé, professora indígena.
Este livro aqui é coisa séria! É a nossa história! Agora nós vamos poder usar o livro na escola e mostrar o que é ser um índio! Eu sou índia com muito orgulho! Eu não tenho vergonha! Este livro vai mostrar para os que vão nascer depois o que é ser um índio! – Brasilice, cacique da aldeia Suassuna.
Depois da mesa, os Tembé realizaram uma dança tradicional para celebrar o lançamento do livro em Belém, desde junho de 2015, quando o livro foi lançado nas aldeias, eles aguardavem por este momento.
Texto: Camille Nascimento e Dilermando Gadelha