MAIRI

ePISÓDIO 1

Nossa ancestralidade Indígena

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Por Ivânia dos Santos Neves

Não há dúvidas de que os povos indígenas sempre fizeram parte da constituição da cidade de Belém, mas esta condição, desde o início da colonização se instituiu como uma memória marginal, constantemente apagada pelo dispositivo colonial. Ainda hoje, pelos processos de violência a que foi submetida, há quem continue atribuindo a esta Belém indígena a condição de selvagem em oposição ao civilizado. É urgente e necessário visibilizar de uma forma nova a Mairi dos Povos e descolonizar Belém, para que a cidade se inscreva na história do presente com toda a sua pluralidade.   

Antes da chegada dos europeus, viviam numa grande extensão do território hoje denominado Brasil, os senhores do litoral, como assim eram conhecidos os povos Tupinambá, os primeiros indígenas que foram violentamente, assassinados, silenciados e perseguidos pelos colonizadores. No final do século XVIII, na Amazônia, grande parte dessas populações foram dizimadas pelas guerras travadas contra os portugueses e sobretudo pelas grandes epidemias trazidas pelos estrangeiros. Entre os sobreviventes deste contato inicial pelo litoral, alguns foram forçadamente transformadas em escravos ou nas pessoas empobrecidas que passaram a viver nas periferias das cidades. Um outro contingente, no entanto, adentrou a floresta e reinventou outras formas de vida e se manteve por bem mais tempo bem distante da violência do sistema colonial. 

Mais de quatro séculos depois, quando olhamos os corpos paraenses, sem muita dificuldade vemos a memória ancestral viva dessas sociedades. Da língua Tupinambá, hoje compreendida como Nheengatu, vieram os nomes de nossas frutas, de nossas comidas típicas, de vários nomes de lugares, como Pará, Guamá e tantas outras localidades espalhadas pela região que insistem em expressar a resistência que chega até nós em 2022 e já não quer mais ficar nas sombras. 

Antes da chegada do colonizador europeu, não existia o continente americano, o Brasil, nem a Amazônia, nem Belém, pelo menos não com esses nomes, nem com essas divisões políticas. Os povos indígenas que aqui vivam lhes atribuíam outros nomes e viviam histórias muito diferentes.

Ainda sabemos muito pouco sobre como mulheres e homens indígenas vivam por aqui e esse nosso desconhecimento foi de propósito! E ainda hoje as escolas, as mídias, as igrejas continuam reforçando esse processo de esquecimento. Sabemos muito pouco sobre nossa ancestralidade indígena!

Aqui em Belém, viviam os Tupinambá e foram eles que receberam os colonizadores. Eram os senhores do litoral e estavam espalhados de norte a sul desse gigantesco país!

O manto Tupinambá

Um dos artefatos culturais Tupinambá mais admirado e cobiçado pelos europeus que passaram pelo litoral da América do Sul foi o manto Tupinambá. Feito com penas de Guará, ave de expressivas penas vermelhas, ele era usado pelos caciques e pelos grandes pajés. Para eles, usar este manto representava muito poder e lhes garantia a proteção de seus ancestrais.  

 

Atualmente, os 05 mantos Tupinambá dos séculos XVI e XVII que existem estão em museus europeus. Os Tupinambá de São Paulo de Olivença na Bahia vêm se empenhado para fazer a reconstituição desse manto. Em xxx, um destes mantos antigos esteve em exposição no Brasil, mas retornou ao Museu Real de Arte e História da Bélgica, em Bruxelas. Esta situação mostra bem a forma de colonização que foi imposta aos povos originários do continente americano e de outras partes do mundo pelos europeus. Os Tupinambá de hoje não têm acesso aos mantos que foram tecidos pelos seus ancestrais.   

Nos dias de hoje, no litoral paraense, na região de São Caetano de Odivelas e na zona costeira do arquipélago do Marajó, vivem as maiores concentrações de guará, aves que junto com tantas outras continuam enchendo de colorido esta parte da Amazônia. Durante muito tempo e mesmo ainda hoje, muitos pesquisadores duvidam do universo colorido das cosmologias indígenas e atribuem as cores apenas às peças de cerâmicas pintadas e silenciam a riqueza das cores das plumagens de nossos pássaros!  

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