Márcia inicia sua defesa apresentando o prólogo que diz sobre seu percurso como sujeita indígena, um caminho de reconexão com suas raízes. A tese investiga, a partir dos estudos do discurso, as experiências históricas e contemporâneas dos Omágua/Kambeba na Pan-Amazônia. Atualmente esse povo vive em terras indígenas espraiadas nos territórios de três países: Brasil, Peru e Equador.
Durante a construção da tese, foram usadas metodologias que rompem com o paradigma da ciência neutra, que impõe um caminho linear e rígido a ser seguido. A etnografia guia o campo num processo um percurso metodológico que envolve sentir pensar o mundo, a escuta, o olhar atencioso para tudo e os registros no caderno canoa. Nesse sentido, foi proposta uma metodologia chamada “Kuara Açu” que significa “grande caminho”. O percurso metodológico Kuara Açu leva em consideração vários aspectos para o desenvolvimento da pesquisa: Omágua Kambeba, território, transterritorialidade, sentir pensar, etnicidade, pesquisa militante, ancestralidade, oralidade.
A língua nesse contexto é um importante veículo de transmissão de saberes e fortalecimento da identidade cultural. Apesar da fratura colonial, provocada a partir do contato com o colonizador, a língua ancestral não é esquecida. A língua é um território de resistência e aprender a falar a língua é resistir e se reconectar com o povo ancestral.
Ao longo do texto, Márcia apresenta duas materialidades que fortalecem o povo Omágua/Kambeba: a maqueira e a canoa. A canoa desliza pelos rios da Amazônia, carrega consigo os saberes e as memórias, enquanto a maqueira embala e preserva a história. A avó, deitada na maqueira, transmite histórias que, assim como a fumaça do cachimbo, são ensinamentos carregados de sabedoria. O avô senta na proa da canoa para contar histórias do povo. Eles revelam a força das raízes, a continuidade das práticas culturais e a resistência.
Márcia Kambeba não apenas defendeu uma tese acadêmica, mas a memória de seu povo e a continuidade de suas tradições. A defesa de Márcia é um marco que ultrapassa as fronteiras da academia, ela visibiliza a sabedoria ancestral e reafirma o compromisso com os povos originários da Pan-Amazônia.