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MÁRCIA KAMBEBA, A PRIMEIRA DOUTORA INDÍGENA DA ÁREA DE LETRAS DA FORMADA NA AMAZÔNIA, DEFENDE TESE DE DOUTORADO NO PPGL/UFPA

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Na manhã de 19 de dezembro de 2024, no hall do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Pará (PPGL/UFPA), o som dos maracás e o canto ancestral nos transportaram para o universo de resistência e memória dos povos da Amazônia. Esse ritual marcou a defesa da tese de Márcia Wayna Kambeba, a primeira doutora indígena indígena na área de Letras da Amazônia. 

A tese foi intitulada  “Os Omágua/Kambeba: narrativas, dispositivo colonial e territorialidades na Pan-Amazônia” e a banca de defesa foi presidida pela profa. Dra Ivânia dos Santos Neves (PPGL/UFPA) e teve como arguidores o prof. Dr. José Ribamar Bessa Freire (UNIRIO), o prof. Dr. Gersem Baniwa (UFAM), a profa. Dra Luisa Elvira Belaunde Olschewski (Universidad Nacional Mayor de San Marcos/Peru), a profa. Dra. Ananda Machado (UFRR) e a profa. Dra. Maria Lucilena Gonzaga.

Márcia inicia sua defesa apresentando o prólogo que diz sobre seu percurso como sujeita indígena, um caminho de reconexão com suas raízes. A tese investiga, a partir dos estudos do discurso, as experiências históricas e contemporâneas dos Omágua/Kambeba na Pan-Amazônia. Atualmente esse povo vive em terras indígenas espraiadas nos territórios de três países: Brasil, Peru e Equador. 

Durante a construção da tese, foram usadas metodologias que rompem com o paradigma da ciência neutra, que impõe um caminho linear e rígido a ser seguido.  A etnografia guia o campo  num processo um percurso metodológico que envolve sentir pensar o mundo, a escuta, o olhar atencioso para tudo e os registros no caderno canoa. Nesse sentido, foi proposta uma metodologia chamada “Kuara Açu” que significa “grande caminho”. O percurso metodológico Kuara Açu leva em consideração vários aspectos para o desenvolvimento da pesquisa: Omágua Kambeba, território, transterritorialidade, sentir pensar, etnicidade, pesquisa militante, ancestralidade, oralidade.

A língua nesse contexto é um importante veículo de transmissão de saberes e fortalecimento da identidade cultural. Apesar da fratura colonial, provocada a partir do contato com o colonizador, a língua ancestral não é esquecida. A língua é um território de resistência e aprender a falar a língua é resistir e se reconectar com o povo ancestral. 

Ao longo do texto, Márcia apresenta duas materialidades que fortalecem o povo Omágua/Kambeba: a maqueira e a canoa. A canoa desliza pelos rios da Amazônia, carrega consigo os saberes e as memórias, enquanto a maqueira embala e preserva a história. A avó, deitada na maqueira, transmite histórias que, assim como a fumaça do cachimbo, são ensinamentos carregados de sabedoria. O avô senta na proa da canoa para contar histórias do povo. Eles revelam a força das raízes, a continuidade das práticas culturais e a resistência.

Márcia Kambeba não apenas defendeu uma tese acadêmica, mas a memória de seu povo e a continuidade de suas tradições. A defesa de Márcia é um marco que ultrapassa as fronteiras da academia, ela visibiliza a sabedoria ancestral e reafirma o compromisso com os povos originários da Pan-Amazônia.

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