[…] Certamente os discursos são feitos de signos; mas o que fazem é mais que utilizar esses signos para designar coisas. É esse “mais” que os tornam irredutíveis à língua e ao ato da fala. É esse “mais” que é preciso fazer aparecer e que é preciso descrever. (FOUCAULT, 1986)
Fonte: Site de Notícias Terra. Disponível em: https://www.terra.com.br/ |
Tu já jogaste no buscador do Google a palavra “Indígena”?
Para quem ainda não teve esta curiosidade, o resultado é de aproximadamente 40.700.000. Há mais resultados do que quando procuramos a palavra “Amazônia”. Essa foi uma das ferramentas de pesquisa utilizadas no trabalho de Iniciação Cientifica “Tembé nas mídias sociais”, realizado na Faculdade de Letras (FALE), do Instituto de Letras e Comunicação (ILC), da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Pensar as questões indígenas no contemporâneo é refletir sobre os discursos nas mídias sociais de um modo geral, que hoje é uma prática do cotidiano do homem em diferentes esferas da sociedade. No entanto, que efeitos de sentidos essas práticas formam em relação ao sujeito indígena, especificamente, sobre a sociedade Tenetehara, povo que possui mais de 400 anos de contato com o não-indígena e desde então, resiste a várias ameaças?
Em um ano de pesquisa, várias formas de representações do Tenetehara foram encontradas, tanto em páginas criadas para falar de uma realidade local como em sites de alcance mundial que produziram trabalhos sobre esse povo. Um dos destaques foi o documentário produzido pelo site francês Vice News, que mostra a sociedade Tenetehara em um cenário de guerra, reforçando um imaginário que se fez do índio exótico e selvagem desde o período da colonização e através da cultura visual e espetaculosa.
O trabalho mostrou que essas práticas, desde a “descoberta do Novo Mundo”, formavam imagens que continham uma verdade absoluta, através de pinturas, literaturas e relatos do diferente sujeito das Américas, nas quais o espectador era levado ao fascínio pelas histórias de terror e magia que contornavam as representações. A invenção do monstruoso transformou-se em signo e essa representação do indígena era repassada em outras formas de materialidades discursivas, como em cartões postais, cartões de visita ilustrados, revistas e, a partir de 1860 com a sua popularização, fotografia, que se transformaram em um discurso hegemônico.
Esse mercado de maravilhas, curiosidades, um conjunto de tudo o que é estranho e esquisito, atrai milhões de olhares mundo a fora. As produções de audiovisual feitas pela Vice News chegam à casa dos milhões de visualizações. Vendem o bizarro e o inusitado. O show mais assustador é o show mais assistido.
Em contrapartida, encontraram-se outras matérias sobre esse povo, que também mostram seu modo de vida, mas com outros discursos. O Portal Cultura, por exemplo, fez o “especial Tembé-Tenetehara”, em que é mostrada a cultura indígena como uma outra concepção do mundo e não inferior às outras. Nas imagens, os sujeitos não estão pintados para a guerra, como de costume em outros sites, e elas mostram o belo da festa da criança, uma celebração à vida.
A pesquisa aponta para a importância de problematizar os discursos que reverberam na sociedade em relação às sociedades indígenas, pois, quando se mostra um Tembé selvagem que não colabora com a nação e só luta por terras, faz-se uma generalização dos povos e se invisibiliza tudo o que eles produzem ou produziram durante os séculos, por isso, procuramos pluralizar a verdade nos discursos analisados.
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Texto: Josué Oliveira