Os caixões das almas indígenas Disponível em: https://vimeo.com/229660486 |
RESUMO
Os dizeres “ordem e progresso” estampados na bandeira nacional rememoram discursos que atravessam as histórias do Brasil e constituem a nação como “o país do futuro, o país do milagre”. Há, entretanto, em nossa sociedade, lugares que flutuam em fuga deste “milagre” e deste “progresso”. Chamamos esses espaços, hoje, de aldeias indígenas. Lugares que despertam fascínio e medo. Permeiam o imaginário nacional de onde vai emergir o corpo indígena pintado e com um arco e flecha, seja para admiração ou para o pavor. Esses espaços estão presentes nas margens de nossa sociedade, são o contrário do que não tem lugar, eles são heterotopias. O objetivo deste trabalho é realizar uma pesquisa arquegenealógica a partir dos estudos de Michel Foucault a fim de problematizar acontecimentos discursivos que inventaram e inventam identidades de povos indígenas em histórias filmadas no decorrer do século XX até a contemporaneidade. Pretendemos analisar processos discursivos construídos em materialidades fílmicas que agenciam uma ética e uma estética da corporalidade, da sexualidade e do gênero cujos efeitos de sentido objetivam/subjetivam o indígena brasileiro. Essa análise pressupõe focalizar os regimes de verdade que constituem esses discursos. Por que determinados enunciados ganharam destaque na mídia e outros foram interditados, excluídos? Que relações de saber e poder agenciaram e agenciam o movimento dessas agitações históricas? Quais os interesses e as oposições de atores tão distintos como os Governos Brasileiros, a TV Globo, as ONGs, os antropólogos, os documentaristas e os próprios índios como produtores de visibilidades e enunciabilidades sobre as sociedades indígenas? Para Gregolin (2008), a função do arqueogenealogista é “interpretar ou fazer a história do presente”. Este procedimento consistiria em mostrar que “as transformações históricas foram as responsáveis pela nossa atual constituição como sujeitos objetiváveis por ciências, normalizáveis por disciplinas”. A partir desta perspectiva teórica, a proposta é colocar em luta os saberes produzidos pelas diversas produções audiovisuais sobre/dos povos indígenas do lugar histórico de onde eles falam. Na relação mais estrita entre discurso e mídia, as contribuições na elaboração de uma Semiologia Histórica de J.J. Courtine e as propostas de uma análise do discurso com Michel Foucault empreendida por Rosário Gregolin e diversos pesquisadores brasileiros, que retomam as formulações da AD francesa e ampliam as reflexões sobre o funcionamento da mídia, no Brasil, também nortearão as análises desenvolvidas nesta pesquisa.
Palavras-chave: Sociedades indígenas; histórias filmadas; heterotopia.
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Sobre o autor:
Maurício Neves Corrêa é doutor em Linguística e Língua Portuguesa pela Universidade Estadual Paulista -Júlio de Mesquita Filho – UNESP/Araraquara (2018), com Estágio Sanduíche no Departamento de Cinema da Université Sorbonne Nouvelle – Paris 3 (2017) , Mestre em Comunicação, Linguagens e Cultura, pela Universidade da Amazônia – UNAMA (2013), Graduado em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo,pela Universidade da Amazônia – UNAMA (2009). É membro do Grupo de Estudos de Análise do Discurso/Araraquara – GEADA e do Grupo de Estudos Mediações, Discurso e Sociedades Amazônicas – GEDAI (Líder). Participou de projetos de pesquisa e extensão financiados por diferentes agências de fomentos (UNESCO, CAPES, CNPq, FIDESA) e atualmente é pesquisador do projeto “EtniCidades Amazônicas: fraturas, invenções e interações”, financiado pela PROPESP/UFPA. Seus principais interesses de pesquisa estão voltados para a história do audiovisual, suas perspectivas estéticas e suas relações de poder, com especial atenção à diversidade étnico-racial e à produção das subjetividades indígenas. Sua areá de atuação epistemológica está na fronteira entre as teorias do discurso e da comunicação. Diretor de produções audiovisuais documentais e de ficção, como a web-série “Análise do Discurso com Michel Foucault” e os filmes curta-metregem “Tapi’i’rapé: o caminho da Anta” e “Tekwaeté, a rede Aikewára”. É diretor do Coletivo Gó Filmes.