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Língua Mawayana

A língua Mawayana faz parte da família linguística Aruak.

Não sabemos ao certo quantos falantes deste língua vivem entre os Way Way na Terra Indígena Trombeta-Mapuera e na Terra Indígena Nhamundá-Mapuera. O objetivo deste projeto não previa identificar o número de falantes, mas sim registrar os usos sociais das línguas indígenas faladas no estado do Pará em 2021. E neste sentido, saímos a busca de narrativas, de músicas, de registros de festas e rituais, colocamos nossos olhos nos usos sociais das línguas.

A pesquisa que deu origem ao Documentário “Entre rios e palavras: as línguas indígenas no Pará em 2021” e a este Mapa Interativo, só foi possível de ser realizada pelo empenho de alunas e alunos indígenas universitários que fizeram os vídeos com seus próprios celulares. Elas e eles entendiam a importância política do projeto e assim, no período de março a setembro de 2021, conseguimos juntar esforços para produzir estes resultados.

Foi neste processo que nos chegaram as histórias contadas por Kayawa Mawayana. Seu neto Iolandino Xayukuma Wai Wai, estudante da UFOPA, nos trouxe este vídeo com a história de sua avó. Na região onde vivem, ela é a última falante da língua Mawayna e sua família desconhece se ainda há outras pessoas que falem esta língua. Sua avó conta que perdeu todos os parentes e amigos e que ficou muito triste porque os mais novos não aprenderam sua língua.

Diante desta narrativa, pedimos ao Iolandino para fazer novas gravações com sua avó, mas descobrimos que ela veio a Santarém para fazer a gravação e retornou para a Aldeia Mapuera, que fica ao norte de Oriximiná, bem distante de onde o neto mora. Ele também nos contou que sua família fez uma coleta para financiar a vinda de sua avó, pois em nenhum momento ela havia sido ouvida pelos não-indígenas.

Esta experiência não nos colocou diante da última falante da língua Mawyana. Ela nos mostrou que existem sujeitas e sujeitos que vivem suas histórias imersos em outras formas de vida, mas que são historicamente perseguidos, expostos ao apagamento de suas culturas e de suas línguas e mesmo assim resistem e hoje tem bastante consciência dos processos políticos de resistência impostos por suas línguas ancestrais.

Kayawa Mawayana é uma sujeita e suas palavras não são apenas estruturas linguísticas. Ela está inserida em uma trama histórica e sua família não deseja que os saberes de suas língua, de sua cultura se encerrem nela. Foi seu neto que fez os registros de suas histórias e foi ele também que as traduziu para o Português.

Este processo, muito antes de nos fazer afirmar que “eles perderam a sua língua”, ele nos faz acreditar nesta capacidade incrível de resistência dos povos indígenas e também remexe com a nossa condição de pesquisadora, que poderia se seduzir com a notoriedade de anunciar a morte de uma língua, mas que prefere não perder a clareza do seu lugar de enunciação. Eu, assim como Kayawa e Iolandino, falamos de dentro da Amazônia e sob a ótica do neoliberalismo, falamos todos nós aqui de um lugar de subalternidade.

Como citar este texto:

NEVES, Ivânia. Línguas Mawayana  In. NEVES, Ivânia. Retratos do contemporâneo: as línguas indígenas na Amazônia Paraense. Relatório Final, FIDESA/SECULT/LEI ALDIR BLANC, Belém, 2021.

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