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Qualificação de mestrado reúne banca internacional

Com o título “Essa terra aqui, esse rio aqui, Karosakaybu deixou para nós: memórias, narrativas e território Munduruku”, o pesquisador Benjamim da Costa Araújo, sob orientação da Profª Dra. Ivânia dos Santos Neves, qualificou a sua dissertação de mestrado no último dia 20. O trabalho foi avaliado por uma banca internacional, formada pela professora de Literatura Brasileira (UFPA) e pós-doutoranda Mayara Ribeiro Guimarães (Universidade de Zurique, Suíça),  e pelo professor, coordenador do programa de português no Departamento de Línguas e Linguística Modernas da Florida State University e pós-doutorando Marcos Colón.

A pesquisa em andamento se debruça sobre as narrativas indígenas do povo Munduruku, da Bacia do Tapajós, que vivenciam as consequências dos projetos desenvolvimentistas voltados à Amazônia. Por meio da Análise do Discurso de vertente foucaultiana, assim como estudos sobre memória, identidade e cultura, o autor investiga como são produzidos os sentidos de resistência e identidade desse povo, presentes nas suas narrativas, em protestos e contestações referentes aos impactos ambientais causados pelos grandes empreendimentos na região amazônica.

A partir dos Estudos do Discurso com Michel Foucault no Brasil, propõe-se verificar a “memória como processo narrativo”, problematizando o passado (as tradicionais narrativas do povo Munduruku) a fim de desvelar suas camadas arqueológicas (tornar visíveis os acontecimentos) na constituição dos sentidos. Somam-se a esta proposta as contribuições de Maurice Halbwachs (2006) e sua concepção de Memória Coletiva, que estrutura e conduz a narrativa desta dissertação, além de Michael Pollack e suas Memórias Subterrâneas, fazendo emergir as vozes soterradas dos grupos dominados.

Detalhe da ‘ilustração de índio mundurucu” em 1828, por Hércules

O mestrando explica o desenvolvimento do seu trabalho e as perspectivas para a finalização da dissertação, após a qualificação: “os dois primeiros capítulos buscaram trabalhar o conceito de território da memória e suas fundamentações, em um segundo momento, a memória deste território. Para finalizar, pretendo ainda dissertar sobre as memórias contemporâneas, com estudos e leituras sobre dois pontos centrais: uma panorâmica sobre a Bacia do Tapajós, falar deste cenário atualizado, me detendo muito nas cartografias críticas (Brian Harley), vou analisar o mapa da vida construído pelo povo Munduruku, no qual eles revelam uma visão deste espaço territorial, pela sabedoria e vivência próprias. O mapa deles rompe com o modelo de mapa-múndi que estamos acostumados (globo terrestre com as posições norte-sul e leste-oeste).

O segundo ponto é falar sobre a autodemarcação, o texto avança neste sentido, pois fala de resistência territorial e autodemarcação é o ponto forte, porque contrariando aquela máxima de pensamento ocidental cartesiano ‘Penso, logo existo!’, o Munduruku diz o seguinte ‘Piso, logo resisto!’. Esta terra realmente é a terra do Munduruku, eles sabem disso, eles têm sabedorias, vivências, ancestralidade, história, eles conseguem dizer ‘nós estamos aqui, esta terra é nossa!’. É este o sentido que vou buscar para a finalização da dissertação, trazer estas narrativas atualizadas, por isso estou denominando ‘narrativas contemporâneas’ ou ‘memórias contemporâneas’, porque eles estão gerando memórias para o futuro”, explica.

Mundurukânia no detalhe do mapa das Missões Jesuíticas na região Madeira-Tapajós

Os avaliadores aprovaram o trabalho, ressaltando muitos pontos da pesquisa, a exemplo da escrita ensaística, da “ruptura epistemológica para tratar da narrativa indígena” ou da “categoria de identidade em que rio e homem não se separam”, além da indicação de outras referências que podem somar à pesquisa. Para a orientadora da pesquisa, Ivânia Neves, a pesquisa confirma o olhar acadêmico à Amazônia, “trabalhos como este reforçam o compromisso do PPGL com a região amazônica, nós somos o maior Programa de Letras de toda a Pan-Amazônia e precisamos cada vez mais nos comprometer com essa região”, afirma.

Caracteres simbólicos traçados na barranca de Cantagallo, à margem do Alto-Tapajós.

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